
Uma sexta, apenas uma sexta-feira, um dia da semana, a mesma monotonia de sempre. O sol abre a visão do pequeno bairro que se mostra ao fim da pequena cidade do interior paulistano. O cantar de alguns pássaros costumeiros revela que o dia começou. Um pequeno pardal indica o caminho da cama à porta, da porta à vida.
O café forte, de cor preta, aroma aguçado e atraente de olfatos, desperta a vizinhança.
O menino alegre passa pela rua, saltitante para a escola. Não que lhe agradasse estudar, mas lhe inundava saber de que dentro de poucas horas chegaria ao fim o período de aulas semanal.
A velha mulher, baixa, caminha lentamente pela calçada esburacada e mal tratada carregando consigo, além de alguns quilos a mais, o fardo de uma vida: alegrias, tristezas, sofrimentos, tudo o que aprendera... e alguma razão pela qual mantinha sua rota diante da estrada do viver. Algo não estava terminado!
A árvore de caule ferido, galhos mal podados, lutando pela vida, sem dar se quer uma reclamação, mantendo-se firme sobre o solo seco, persistia constantemente que a vida daquele que a destruíra dependeu, depende e dependerá dela.
O carro barulhento, com o escapamento estourado, passa pelo asfalto calejado que implora por ajuda. Alguém que lhe tapasse as feridas doloridas criadas por pneus revoltados e desesperados, muitas vezes sem motivos para tal euforia.
Mais tardia a velha senhora gorda retorna a sua casa, sol a pico, a fome impregnando-a... Horário de preparar a bela e saborosa refeição do meio dia. O garoto feliz volta com um grupo de amigos, desta vez com uma velha bola de capotão maltratada entre as mãos. Começaria uma partida: sexta, sábado e domingo, dias estes que passariam tão rápidos quanto aqueles poucos segundos que passaram diante do quarteirão no caminho do campinho improvisado que já pedia cuidados, mesmo que simples, de um de seus companheiros de todas as tardes e fins de semana. Tudo conforme o cronograma.
Um homem de meia idade, barba mal cortada, sorriso amarelo, dono de passos lentos e uma expressão de cansaço, caminha lentamente até o meio do pequeno quarteirão onde se senta junto à sarjeta e entrelaçando os dedos das mãos apoia o pescoço sobre elas e parado faz uma reflexão da vida.
Talvez estivesse passando diante de sua mente tudo que acontecera de marcante ou insignificante em sua vida. De minuto em minuto expressava um leve sorriso, uma velha lembrança de felicidade talhada no coração. Estaria descobrindo o que um velho cientista passaria a vida inteira tentando explicar para o mundo: o sentido da vida!
Na impressão de que aquele homem saberia explicar, com sinceridade, o que aprendera em todos aqueles anos que haveria de ter vivido ali, resolvi me direcionar a ele e perguntar sobre o lugar onde vivíamos. Com calma ele olhou para a frente e começou a falar:
_Moramos nesta bela e pequena cidade, onde temos poucos crimes, poucos acidentes, sem um trânsito estressante, catástrofes ou atentados terroristas. O que vem ao ponto é que vivemos aqui, onde meu vizinho é fonte de empréstimo de uma xícara de açúcar ou farinha e que, muitas vezes, paramos para prosear , descobri que meu vizinho mora perto de mim ...Percebi um novo jeito de viver, conheci pessoas, descobri que dentro da humildade de um povo simples e pacato grandes pensamentos podem reinar, mesmo que passem sorrateiramente sem despertar a atenção de ninguém.
O homem levantou-se, por alguns segundos, calado e disse:
_No caminho da vida, infelizmente, deparamos com alguns buracos dos quais devemos desviar. Vou seguir o meu caminho...- E continuou caminhando pela rua.
Olhei para o asfalto e conclui:
_Realmente precisamos de uma boa lama asfáltica.
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