sábado, 21 de agosto de 2010

Um jeitinho

O homem foi informado por Seu Antônio, um velho amigo, sobre a morte do compadre prefeito:
_Já faz uma semana desde o sepultamento e...
_Se ao menos o corpo ainda estivesse aqui - interrompeu -eu daria um jeitinho, depois do enterro fica difícil – lamentou o homem de estatura baixa, gordo, cabelo comprido e rosto achatado.
O amigo, indignado, permaneceu por certo tempo em uma reflexão do tal suspeito ”um jeitinho”, mas ao fim acabou que por apagar aquilo, só por um tempo, de seu pensamento.
Passaram-se dois dias, era uma manhã serena, sob a brisa refrescante, que trazia paz e tranqüilidade ao povo daquela pequena cidadezinha, momento em que Seu Antônio recebeu a notícia sobre o falecimento de um grande companheiro dos tempos de juventude, atordoado e sem saber o que fazer dizia:
_Queria mesmo que ele estivesse conosco...
Uma velha lembrança lhe invadiu o pensamento, “um jeitinho”, sem pensar duas vezes foi em busca do Milagroso.
Três dias de uma procura lastimosa e sem resultados, tempo este em que o corpo permaneceu em cima da terra. Onde estaria o tal homem?
A tarde se aproximava, o sol se escondia no horizonte e o velho e fraco Antônio estava pronto para se conformar com a perda que sofrera, até que em uma rua qualquer entre meio a sarjeta e o asfalto, sentado, cabeça abaixada e um chapelão sobre a mesma, era ele, o Milagroso Divino que poderia arrancar o tormento do peito de Seu Antônio, o qual explicou rapidamente o ocorrido e recebeu a resposta:
_Devemos ser rápidos... - com uma voz calma e confirmativa
Trataram de ir ao necrotério, onde o pobre corpo esperava a chegada do suposto Divino que lhe curaria do incurável. Ao longo do caminho uma pequena reflexão surgiu na mente de Seu Antônio: seria algum santo? Um feiticeiro? Um enviado de Deus?
Chegaram. Correram o mais rápido possível. Lá estava o corpo em um estado péssimo. O homem observou atentamente o cadáver como se estivesse preparando-se para um ritual. Fechou os olhos, respirou fundo e com as mãos colocou a cabeça, do defunto, reta perante ao corpo e, em seguida, com extrema sutileza uniu as mãos do morto e as posicionou sobre o corpo dizendo com alívio:
_Pronto, já podemos enterrar.

Um comentário:

CHICO XAVIERO disse...

CARA E DEMAIS MUITO BOA MESMO