quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

Procura-se: balas perdidas


A onda de crimes no Rio de Janeiro, principalmente nas favelas que praticamente eram dominadas por traficantes e outros tipos de seres que mexem com o crime, é algo que realmente precisava ser mudado, entretanto só então agora com a invasão as favelas e dominação destas pelas forças policiais a situação está em um quadro de melhora.
Os ladrõezinhos foram presos, assim como os grandes traficantes e “chefões”, além de toneladas e toneladas de drogas e armas que estão guardadas, caso haja uma terceira guerra mundial todos os países do mundo vão querer se aliar o Brasil, pois certamente com tal tipo de armamento a nação se torna indestrutível.
Para muitos essa situação de limpeza das favelas vem sendo vista como uma grande necessidade e avanço para o Rio, mas nem todos os cariocas pensam desse jeito, até pensavam nos primeiros dias depois perceberam que a ausência das armas mexeu de forma drástica em seus cotidianos.
José por exemplo é morador do Alemão há cerca de dez anos e certa manhã acordou cedo e determinado a ir a padaria da esquina comprar dois pãezinhos, mesmo que isto lhe custasse a vida. Preparou todo seu equipamento de defesa, colocou seu colete a prova de balas, seu capacete militar, botas militares e outros equipamentos de guerra, por fim pegou seu escudo gladiador, caminhou com dificuldade até a porta de sua casa, a cada passo se ouvia um barulho infernal do equipamento que lhe prendia as pernas, certamente aquilo já seria o suficiente para algum vizinho que dormia, por estar de ressaca da noite anterior, desse um tiro no barulhento. Antes de abrir a porta rezou três aves Maria e cinco Pais Nossos, abriu a porta e saiu em direção a padaria até a esquina o mais rápido que pode, embora as engenhosidades sobre seu corpo permitissem que uma tartaruga fosse mais rápida que ele.
Com os olhos fechados para não ver os tiros José chegou até o local de destino, abriu os olhos e como não sentia nenhuma dor ou desconforto de uma bala cravada no corpo, olhou para o padeiro que estava a sua frente:
_ Aqui é o céu? – suspirou- Você também morreu seu Joaquim?
O padeiro sem entender o que acontecia resolveu responder com calma a pergunta do cliente, afinal realmente era de se admirar que este tivesse chegado até ali sem levar um tiro ou uma facada se quer e respondeu:
_ O único céu que tem aqui é este – disse apontando para cima- depois do tiroteio de sexta o telhado ficou um peneira e da para ver o céu daqui de dentro, mas agora acho que isso não vai mais acontecer, a polícia esta invadindo o morro e levando os criminosos, já levaram minha mulher e meus filhos e também meu pai de oitenta anos, só sobrou eu...
Admirando a novidade da invasão policial, José retirou aquele equipamento de guerrilha que devia ter uns vinte ou trinta quilos e fez seu pedido:
_ Me vê dois pãezinhos, por favor?
Seu Joaquim foi até a fornalha deu uma olhada e depois voltou com as mãos vazias:
_Pronto!
_Pronto o que?-retrucou cliente- Cadê meus pães?
_Que pães, eu já vi lá para o senhor... –explicou Joaquim
_Não... - disse José procurando manter a calma- eu quero comprar dois pães francês, entende?
_Ah! Entendo, mas sinto muito aqui não tem pão francês, sou eu quem faz os pães e sou português não francês!
Cansado do desentendimento, José concluiu o pedido:
_ Então me vê, ou melhor, me traz dois pães portugueses que eu preciso ir para casa...
Após alguns minutos José conseguiu levar os pães, fez o caminho da padaria até sua casa repetindo a façanha de não levar um tiro durante o trajeto. Entrou em sua casa sem acreditar no que estava acontecendo.
Nos primeiros dias as pessoas continuavam saindo de suas casas com suas armaduras e escudos, depois alguns saiam um dia com outro sem os equipamentos, entretanto no dia em que todas aquelas proteções não eram postas, as pessoas encontravam certa dificuldade para realizar as tarefas diárias, afinal a maioria delas vivera toda a vida por baixo daqueles metais improvisados e coletes gastos e usados. Alguns não conseguiam nem andar sem os equipamentos, outros não conseguiam falar e por incrível que pareça alguns não conseguiam nem respirar.
Um certo senhor saiu de sua casa sem a incrível armadura que havia modificado durante anos e anos, deu alguns passos e começou a zonzear, levou a mão ao pescoço como se lhe faltasse ar e aos poucos foi caindo, começou a se rastejar pela rua na tentativa de voltar e buscar seu suposto remédio, teve sorte de que alguém viu seu estado e o ajudou. Não soube ao certo porque isso aconteceu, mas se supõe que a falta da pólvora no ar tenha causado o mal estar.
Alguns garotos eram acostumados a caçar pombos com uns estilingues caseiros, todas as tardes voltavam para suas casas com uma bacia com cerca de trinta a quarenta pombos, se julgavam ter a melhor mira de todo o morro e muitos acreditavam nisto, entretanto com a falta de criminosos na região os garotos passaram a voltar todas as tardes apenas com o estilingue na mão. Depois foi se explicado que eles não eram tão bom atiradores quanto pensavam, apenas tinham a sorte dos pombos encontrarem as balas perdidas.
A população passou a perceber que não era ninguém sem os criminosos e não podiam viver sem eles, fizeram passeatas para que eles voltassem e tentaram até mesmo um baixo assinado na tentativa de recuperarem suas vidas.
O governo viu o caso como uma emergência, já haviam sido registrados até casos de suicídio em questão à ausência de balas perdidas, alguns se perguntavam: se as balas perdidas estavam realmente perdidas?  Não vendo resolução melhor para o problema e não podendo soltar os criminosos o governou instalou um sistema de balas perdidas que dispara balas perdidas a cada cinco minutos, isso como provisório até que a Clínica de Recuperação Para Viciados em Balas Perdidas que está sendo construída esteja pronta.

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